Por aqui, nos dias que correm, estamos a atingir o limite. A consciência geral está nos píncaros da indignação e já ninguém tem paciência para o que quer que seja. Os ânimos andam exaltados, todos reagem ao mínimo deslize. É bom. Mas será melhor no dia em que os bons portugueses gritarem: "Estamos fartos de ser comidos!".
Onde está o espírito revolucionário que nos fez lutar pela liberdade? Onde param as forças dos nossos antepassados, o sangue da conquista, a busca da ambição? Será que todos temos algo a esconder e será melhor ficarmos caladinhos? Qual é o medo? Eu entendo. Também o sinto na pele. Cansam-nos os noticiários vazios, de informação inútil e pouco verdadeira. Esgotam-nos as ondas de negativismo e lamentação contínua. Matam-nos os políticos corruptos e pouco prestáveis, nos quais acreditámos um dia e que mais não fazem do que olhar para o próprio umbigo. E lamentamos. Apenas lamentamos. E porquê? Porque nos está no sangue. Porque somos passivos e laxistas. Porque como eu, muita gente neste mísero país, tem que trabalhar muito mais do que as "horas normais de trabalho" para poder ter uma vida que roça, bem por baixo, o nível da dos nossos vizinhos. Não nos sobra muito tempo para "revoluções", para "movimentos úteis". A mim, como a muita gente, irrita ouvir: - "E tu? Fazes alguma coisa para mudar isso?" Eu? Mais? Eu trabalho dignamente, recebo um salário miserável, pago os meus impostos (e sem sombra de dúvida os dos que não pagam), não abro boca para reclamar caso contrário sou despedida, não uso e muito menos abuso dos subsídios da Segurança Social e pago, na íntegra, os custos da paupérrima educação pública da pequena que me foi confiada. Que mais posso fazer? Sair à rua, de bandeira na mão, pintada de amarelo e chamar nomes a todos os que me aparecem e acabar internada num hospício ou atrás das grades?
Sim, é verdade, eu viajo quando posso, quero conhecer o mundo, mas para isso tenho que trabalhar 12 horas por dia em 2 empregos (de trabalho) e apertar muito o cinto. Não há cá luxos! E isto sou eu, porque a vida me vai permitindo e a cabeça também.
Estamos fartos! Já não podemos ver os empresários analfabetos, sentados ao volante dos seus TDI, 4000 Cv, equipados pela AMG, a deixar os meninos na escola, onde miseravelmente usufruem de um escalão A ou, no mínimo B, (sim, estes meninos não pagam o almoço, nem os livrinhos, porque nós subsidiamos!), e que nem o nome sabem escrever.
Estamos fartos dos pretos e dos ciganos (e não, quem me conhece sabe que não sou nem racista nem xenófoba e não quero generalizar!) que vivem à la grande à custa do Rendimento Social de Inserção, e que pagam rendas muito mais do que simbólicas nas habitações sociais, construídas, tijolinho por tijolinho, com o suor de todos nós, e que choram lágrimas de crocodilo porque perderam o "Plasma, o LCD e a até a Playstation dos meninos"!
Estamos fartos de ver os combustíveis a subir, como se fossem uma reacção alérgica imediata à subida do preço do petróleo e a descer ao ritmo da cura de uma depressão profunda.
Estamos fartos deste país miserável, recheado de corruptos e ânimos leves, de casos judiciais que nunca têm fim, do sentimento de impunidade, da fraqueza geral, das conveniências, dos jobs e dos boys!
Faça-se justiça! Tirem os funcionários públicos das secretárias. Eles agradecem! Ponham-nos na rua, a fiscalizar, a vigiar se for necessário. Perseguição? Qual perseguição? Justiça, é o que é! Nós pagamos! Essa factura garanto que não me importo de pagar! Seria uma espécie de investimento no futuro.
Estamos fartos de ser fodidos!
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