O Tobias está aqui, encostado a mim. Derreto-me a olhar para ele. É apenas um gato, bem sei, um monte de pêlo ambulante, um come e dorme, mas eu adoro-o.
Lembro-me do pavor... que exagero... Recordo tudo, e pergunto: - como pode ser possível?
Queria regressar aquela água furtada, apenas para olhar o buraco no tecto e ver a Lua... sentir o cheiro... baunilha, sem dúvida... e ouvir a Amália...
Choro, e vou chorar sempre... como pode ser possível?
Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés.
Gritos de búzios perdidos
Roubaram dos meus sentidos
A gaivota que tu és.
Gaivota de asas paradas
Que não sente as madrugadas
E acorda à noite a chorar.
Gaivota que faz o ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar.
Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas,
Pois na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste,
Meu amor, como demoras.
[Vasco de Lima Couto]
Sem comentários:
Enviar um comentário