Escreves-me cartas, sou o destinatário da tua solidão.
E sempre compreendo tudo, mesmo o que não dizes, o que tinge as entrelinhas de um branco desespero que é tanto teu como meu: não tens quem te salve, envelheceste, trataste mal de um jardim que não chegou a vingar. Se nos cruzássemos nas ruas desta cidade entre desconhecidos de toda a sorte, talvez nos sentássemos a falar da nossa vida, isto é, de como vamos ficando cada vez mais orfãos de nós próprios. Ou, pensando bem, talvez não.
[Rui Pires Cabral, in Longe da Aldeia]
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